Controle emocional é tão importante quanto as competências técnicas. O grito na sala de reuniões, o soco em cima da mesa de trabalho, a agressividade com os funcionários ou colegas e arremessos de objetos são situações rotineiras, em muitos escritórios e empresas, sendo mais comuns do que se imagina. Estas, e outras tantas atitudes, mostram o desequilíbrio emocional também no ambiente de trabalho e apontam para uma importante análise: o gerenciamento das emoções. Mais do que lidar com colegas e colaboradores, o desafio é aprender a utilizar a própria inteligência emocional em situações de tensão.
Na literatura contemporânea, um dos livros de grande sucesso sobre o tema é o polêmico “Inteligência Emocional - A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente”, do jornalista e psicólogo norte-americano Daniel Goleman. No texto, o ph.D pela Universidade de Harvard questiona o velho mito de que a razão deve se sobrepor à emoção. A sugestão dele é a busca de um equilíbrio entre ambas, sendo possível utilizar inteligência e emoção juntas.
Assim, atitudes negativas como ansiedade, melancolia, depressão, entre outros sintomas, devem ser controlados. A persistência e a determinação são dois elementos nesta busca por controle que demonstram inteligência emocional. Mas, o que se pode definir como inteligência emocional? Para o diretor da Renovare Ibero-america, Jesus Sierra, a inteligência emocional significa utilizar, ao máximo, todos os sentidos. “O que falta hoje ao empresário é perceber-se e renovar-se. Tudo se inicia com a ampliação do modelo mental”, diz o autor do livro “Empresas Familiares Como Elas Podem Brilhar”.
Este modelo mental ampliado para Sierra é a busca da qualidade interior em que os pensamentos positivos e de excelência devem dominar o maior espaço. “O ideal é inserir uma espécie de tradutor na mente que transforme as imagens e informações que parecem ser problemas, em idéias que gerem oportunidades e resultados positivos”, acrescenta. Assim, cabe aos profissionais buscarem dentro de si o reequilíbrio emocional, para depois, transmitir aos que atuam diretamente com ele no ambiente de trabalho.
Para a psicóloga e psicoterapeuta Kátia Mestriner, a primeira providência para aprender a gerenciar as emoções é aceitar a existência dos sentimentos. "A emoção faz parte da natureza humana", afirma. A pessoa, quando adquire autoconhecimento, consegue administrar as atitudes e as emoções, planejando o que vai fazer diante de um certo fato. “O indivíduo presta atenção nas próprias reações e toma cuidado para não adoecer em situações de conflito e crises”, ressalta.
Muitas empresas, inclusive, estão investindo em treinamentos específicos para o aprimoramento de comportamentos e atitudes. “Um exemplo é o coaching, que é um aprimoramento do autoconhecimento e da capacidade de autogerenciamento. Assim, quanto mais eu me conheço, melhor consigo lidar com as situações adversas”, afirma Kátia. Outra opção para o empresário é fazer terapia, pois ela promove a melhoria das relações de maneira geral, inclusive nas relações de trabalho. “Esta é a psicoterapia, muito difundida na atualidade.”
Crise financeira
É em momentos como este, em que há uma crise do sistema financeiro mundial, que há maior preocupação e menos equilíbrio emocional por parte do empresário. “É ideal que não se transforme uma turbulência em um tsunami. A crise pode gerar desequilíbrio e, por isso, o segredo é o reequilíbrio mental, criativo e resgatar as raízes da empresa, sua essência para voltar a brilhar”, afirma Sierra. Se a empresa não estiver preparada para lidar com estas emoções em tempos de crise, elas poderão variar de forma positiva ou negativa.
O momento atual, para Sierra, é o de manter o equilíbrio. Esta permanência do espírito empresarial pode ser alcançada com a busca de informações consistentes e na obtenção de criatividade em momentos difíceis. “A crise existe a todo momento, pois todas elas são criadas. Estou há 40 anos no Brasil e sempre houve crise. O modelo mental é que deve ser renovado para criar inovações”, constata. De forma concreta, para o empresário, a época é a de parar de falar sobre a crise que algumas instituições criaram e sair ao mercado e conhecer mais de perto o cliente. “O ideal é aproveitar a crise para crescer, aumentar a liquidez e rentabilidade dos negócios como ocorreu sempre com grandes empresas brasileiras. O momento é de renovação emocional, social e econômica”, finaliza Sierra.
Dessa forma, gerenciar as emoções é a tarefa de gerenciar a si mesmo. Cabe a cada indivíduo praticar o exercício do autoconhecimento, mapear os comportamentos que estão interferindo negativa ou positivamente nos resultados, definir os padrões de comportamento desejáveis, além de traçar metas e objetivos para o futuro. Manter a motivação também é outro aspecto importante na atualidade e que, felizmente, depende exclusivamente de cada um. Tornar-se senhor de si mesmo é a grande lição em tempos de nova ordem mundial.