Há uma fábula, de domínio público, bem interessante, que comenta a visita de um velho sábio e seu discípulo a um sítio distante, mas muito distante mesmo, de uma cidadezinha qualquer.
Neste sítio, quase que no meio do nada, o sábio e seu discípulo encontraram uma casa muito simples de tudo. A aparência dela retratava, por si própria, sinais claros de que a vida naquele lugar era marcada pela ausência de muita coisa.
Ao se aproximar da casa, a dupla verificou que uma família havia feito daquele lugar um ponto para sua morada. A aparência da família, inclusive das crianças, também retratava o estado de carência.
Como quase ninguém passava por aquela redondeza, qualquer sinal de vida, além da própria família, era motivo para chamar a atenção. Com o sábio e seu discípulo não foi diferente.
Logo que foram avistados, o chefe da família, que vivia com sua mulher e mais três filhos, foi ao encontro deles. Hospitaleiro por costume, tratou logo de estabelecer uma conversa.
Aos poucos, acabou convidando-os para uma pequena refeição enquanto conversavam. O mestre e seu discípulo observaram, mas nada comentaram, que a refeição oferecida era toda derivada de leite. Também observaram a simplicidade geral, mais próxima do nada, que ostentava aquela residência.
Comentando com a família sobre a caminhada que fazia com seu discípulo, o sábio ficou intrigado com a ausência de praticamente tudo durante o trajeto e ficou imaginando como aquela família conseguia sobreviver ali, no meio do nada.
Foi quando não se conteve e interrogou o chefe da família: “Como é que você e sua família sobrevivem aqui, se não vimos nada durante nossa caminhada, até encontrarmos sua casa?”
Sem ter nada a esconder, o pai das crianças foi logo respondendo: “Tudo o que temos aqui é fruto desta nossa vaquinha, que nos dá muitos litros de leite. Dele, uma parte é reservada para fazer nossos alimentos e a outra, que sobra, comercializamos na cidade. Como vocês podem ver, esta vaquinha é nossa salvação! Sem ela estaríamos perdidos! E assim vamos vivendo. Como não sabemos plantar, não fazemos nada com a terra. Aliás, achamos que esta terra não serve mesmo para nada. Deve até ser improdutiva!”
Depois de horas conversando, o mestre e seu discípulo resolveram partir. Agradeceram a acolhida e se despediram da família.
Passado um bom período daquela visita, o mestre disse a seu discípulo que voltasse àquela casinha e, à noite, empurrasse a vaca no precipício, às escondidas.
Ao ouvir a ordem do sábio, o discípulo tentou convencê-lo a mudar de plano. Afinal, qual o motivo para fazer isto com aquela família que dependia exclusivamente da vaquinha para sobreviver?
Como o sábio não mudava de idéia e nem se justificava, o discípulo, mesmo contrariado, resolveu acatar seu pedido.
Passados alguns anos, o discípulo resolveu voltar àquela região, explicar sua ação e pedir desculpas à família, pois o remorso do que havia feito o acompanhava dia e noite, não o deixando viver tranqüilo.
Depois de uma longa caminhada, finalmente chegou ao local e viu que, no lugar daquela casinha, havia uma mansão. Preocupado e desesperado, imaginou que, com a falta da vaquinha, aquela família, não sabendo trabalhar, mudara-se para outro lugar ou, pior ainda, acabara morrendo, talvez por conta da fome.
Antes que começasse chorar, o discípulo foi interrompido por um casal todo sorridente que se aproximava. Ao questionar as razões de tanto desespero do discípulo, o casal ouviu: “Há um tempo atrás, passei por aqui com meu mestre e encontramos uma família pobre que residia neste local. Vim para revê-los, mas, infelizmente, não encontrei ninguém. Acho que se mudaram ou, pior, morreram”.
Para surpresa do jovem discípulo, o casal disse que era o mesmo da família que ele e seu mestre visitaram. “Passados alguns meses depois que vocês partiram, nossa vaquinha infelizmente caiu no precipício. Desesperados, tivemos que buscar outras oportunidades para assegurar nossa sobrevivência. Como não havia mais nada para comer, resolvemos trabalhar esta terra, até então considerada improdutiva. E olha que tivemos uma grata surpresa! Os frutos que colhemos dela foram responsáveis por esta melhoria em nossa vida. E só fizemos isto tudo depois que perdemos a nossa vaquinha”.
Moral da fábula: veja se não há uma “vaquinha” em sua empresa ou mesmo em sua vida, impedindo que você faça as mudanças necessárias; e saia da zona de conforto! Muitas vezes, a solução para estes problemas é vencer o medo e mandar a vaca pro brejo. Reúna os funcionários de sua empresa ou do seu departamento e discuta o assunto. Veja se há alguma “vaquinha” impedindo a inovação ou criando situações onde todos ficam acomodados.