Os riscos na concessão de créditos estão presentes no dia a dia da maioria das empresas, principalmente para aquelas que têm como objetivo maximizar seus lucros, no mais alto grau possível. Para isso, seus gestores, além de adotar políticas de otimização da alocação de recursos, redução de custos e incrementos de produtividade, tem utilizado quase que obsessivamente a expansão do volume de vendas como fator-chave na geração de lucros.
No entanto, não se pode confundir lucro com dinheiro disponível no fluxo de caixa. Há uma perceptível diferença entre o retorno obtido na demonstração de resultados (lucro) com a entrada de dinheiro no fluxo de caixa da empresa. Essa diferença pode ser explicada pelos prazos oferecidos aos consumidores na época da operação de venda. O lucro aparece no momento da venda, enquanto as entradas de caixa dependem do prazo concedido nessa venda. Esse fato tem criado sérios problemas de liquidez para empresas totalmente lucrativas.
Portanto, temos um risco explicito na política de maximização de lucros. De um lado, temos o fator rentabilidade, que é gerado pelo volume de vendas, do outro, o fator liquidez, gerado pela forma e pelo prazo de recebimento. Do balanceamento destes dois fatores, rentabilidade e liquidez dependerá a política de concessão de crédito da empresa, sendo, o risco empresarial assumido, diretamente proporcional à prioridade que se der a qualquer um desses fatores.
Risco na concessão de crédito
Risco pode ser entendido como a probabilidade de que algo previamente planejado não se concretize no período, no montante ou da forma esperada. Na concessão de crédito, o risco está associado à possibilidade de que os clientes não paguem suas contas de forma previamente contratada.
Liberar crédito aos clientes é uma decisão que deve ser bem planejada. Envolve a adoção de estratégia para uma boa administração de crédito, que deve conter uma lista de clientes, separada por categorias, de acordo com o risco de incobráveis. Isso pode ser feito através da coleta de dados históricos do cliente em suas transações anteriores com a empresa e uma profunda análise destes dados.
No caso de ser a primeira compra do cliente com a empresa, as informações podem ser colhidas por meio de contatos com bancos comerciais, com outros credores ou mesmo por uma análise individual do cliente. A análise individual geralmente é acompanhada de uma análise de índices.
A relação ‘risco x retorno’ depende da política de crédito da empresa, da política dos concorrentes e de fatores conjunturais externos à empresa. Os riscos podem ser classificados em internos e externos à empresa. Riscos internos são aqueles que dependem da forma de atuação e da política da empresa. Riscos externos independem da forma de atuação da empresa, a qual não tem nenhum controle sobre a concorrência, como segue:
• riscos internos: (a) produção e produto: são riscos relativos à falta de produtos, à necessidade de se manter um alto nível de estoque, à possível obsolescência do produto, e à idade dos equipamentos; (b) administração: refere-se à centralização administrativa, à rapidez na tomada de decisões e à experiência dos administradores; (c) nível de atividade: refere-se ao grau de custos fixos e ao nível esperado de vendas para se atingir o equilíbrio; (d) estrutura de capitais: o grau de endividamento e a composição dos financiamentos recebidos (curto ou longo prazo).
• riscos externos: (a) medidas políticas e econômicas: controle de preços pelo Governo, expansão ou concentração dos meios de pagamentos, aumento/redução dos impostos, influências governamentais nos níveis de oferta e procura global; (b) fenômenos naturais e eventos imprevisíveis: fenômenos como cheias e secas, que afetam principalmente as empresas ligadas à atividade agrícola; (c) ramo de atividade: ciclo de vida de um produto, grau de aceitação do produto pelo consumidor, moda, etc.; (d) mercado: tamanho do mercado e comportamento dos concorrentes.
O grau de risco também merece destaque, pois depende da propensão das pessoas no comando para assumi-la. Existem pessoas que, por natureza, gostam de arriscar, visando assim, a lucros maiores. Outras, por sua vez, são por demais conservadoras para lidar com as naturais incertezas geradas por um alto grau de risco. É evidente que os riscos, principalmente os externos, nunca serão totalmente eliminados. O objetivo da empresa deve, então, ser o de minimizá-los ou, pelo menos, impedir que seus efeitos negativos afetem os negócios da empresa.
BGC | Edição | 1909